SENTIR
Fazemos tudo para embrutecer os sentidos. Todas estas apps, redes sociais, automatismos, servem apenas para entorpecer as emoções, para nos impedir de sentir, de experimentar a vida com toda a sua beleza, alegria, felicidade, mas também, miséria, dor e horror. Enquanto percorremos sem sentido canais e scrolls, desprovidos de corrente mental, não pensamos, não somos inundados de emoções, não nos sentimos assoberbados. Ver fantasias, ilusões e cenários abstrai-nos da nossa própria realidade. Com o olvidar do nosso contexto vem o alívio inerente ao esquecimento e vazio. Todavia, torna-se também difícil criar.
Para criar é preciso sentir a vida ao máximo, o bom e o mau, ser inundado por ela com toda a sua intensidade e sem anestesias. Sim, criar é um processo que começa com a destruição... a destruição de todas as barreiras entre nós e a vida, o jorrar de tudo que está cá dentro para o papel, partitura, tela, não importa a ferramenta da arte escolhida. É como um rio desenfreado cujo leito é a caneta e sem ela existem somente barragens. Depois da destruição, vem o aglomerar de todos os sentimentos, emoções, experiências, beleza, divindade, mas também de toda a fealdade, caos, mundano, insacro e nojeira... junta-se tudo e transcreve-se sem o uso da razão, sem a censura do ego e despojados das limitações da mente. O racional, o intelecto são os últimos passos para que possamos dar um sentido inteligível ao que escrevemos e não termos apenas palavras soltas e frases esquizofrénicas. Mas para todo este processo ser possível, temos que, acima de tudo, SENTIR...